Debates marcam comemoração do “Dia da Consciência Negra”

Debates marcam comemoração do “Dia da Consciência Negra”

Webmaster 18/11/2011 - 08:54
Será comemorado no próximo dia 22 de novembro o “Dia da Consciência Negra”, a partir das 19h30, na Câmara Municipal. A programação prevê a realização de mesa redonda sobre a História do Negro no Brasil e debates sobre a lei 10.639, que prevê o ensino da história afro-brasileira nas escolas, com participação da professora Alessandra de Jesus Batista Paganotto, e sobre o tema “O Negro e a Mídia”, com a participação do jornalista e diretor na EPTV Nei Santos.

Também estão previstas manifestações culturais, como roda de capoeira, dança e exposições diversas. Na ocasião será apresentado o Conselho Municipal da Comunidade Negra e dos membros que compõem a APENDES (Associação dos Pensadores Negros de Descalvado). O evento está sendo organizado pelo chefe da Seção dos Direitos das Pessoas com Deficiência Gismar Manoel Mendes, com o apoio da Prefeitura e Secretaria de Educação e Cultura.

O “Dia da Consciência Negra” motivou a professora de História Alessandra Paganotto a escrever um artigo sobre o assunto, o qual é reproduzido abaixo:

“Do 13 de maio ao 20 de novembro: a luta pela igualdade racial no Brasil

Desde 2003, através da lei N.º 10.639, que as escolas comemoram o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, a data tem ganhado importância crescente no combate ao preconceito e na luta pela ampliação dos direitos civis dos negros brasileiros. Mas até bem pouco tempo atrás não era esse o dia marcado para as comemorações e discussões ligadas às populações afro-brasileiras. Quem frequentou o ensino básico até os anos 80 celebrava a participação do negro na sociedade brasileira em 13 de maio. O que será que mudou de lá para cá? Porque quase não nos lembramos mais do Dia da Abolição?

As respostas para essas perguntas estão nos desdobramentos do movimento negro a partir do final da década de 1970, quando as lutas sociais das minorias se avolumaram e tomaram novos rumos.

Após a Abolição da Escravatura em 1888, iniciou-se um culto a figura da princesa Isabel, que passa a ser cultuada como a verdadeira responsável pelo tardio fim da escravidão no Brasil. Muitas associações de afrodescendentes foram batizadas com o nome da princesa ou com o 13 de maio, dia da assinatura da lei. Entre os principais responsáveis pela heroificação da filha do imperador estava o abolicionista e monarquista convicto José do Patrocínio.

A construção da imagem de D. Isabel como a grande "Redentora" e “Emancipadora” dos negros estava diretamente ligado ao chamado mito da “democracia racial” no Brasil, que durante anos escamoteu os mais variados tipos de discriminação e marginalização sofridos pelos afrodescendentes do país.
O ápice do discurso da harmonia étnico-racial ocorreu durante a Ditadura Militar (1964-1985), quando a propaganda oficial divulgava que por aqui reinava a mais perfeita paz social. Qualquer grupo que levantasse discussões sobre a real situação dos negros, ou de qualquer outra minoria, era duramente censurado e acusado de antinacionalista.

Com o crescimento dos movimentos sociais a partir dos anos de 1970, o movimento negro começa a tomar força, principalmente influenciado pelos blackpower norte-americanos. Nessa época chega o funk de James Brown no Rio de Janeiro, ouvido e dançado nas quadras da Portela e do Império Serrano. Era o início do movimento de afirmação da negritude que ficou conhecido como Black Rio, cujos os maiores ícones eram Toni Tornado e Tim Maia.

Nas cidades do nordeste, o ritmo que embalava as comunidades
afrodescendentes era o reggae de Bob Marley e Jimmy Cliff, que falavam da necessidade de direitos e oportunidades iguais para os negros. No lugar da cabeleira blackpower, baianos e maranhenses usavam os dreadlocks de seus ídolos.

Aos poucos, esses grupos foram incorporando outras formas de expressão para denunciar as desigualdades raciais no Brasil. Entre elas, os estudos da cultura e da história africana. Aliás, nos anos 60/70, os olhos do mundo estavam voltados para aquele continente que lutava vigorosamente pelo fim do domínio secular dos europeus. Nesse contexto, novos ídolos nasciam Agostinho Neto, de Angola, Nelson Mandela, da África do Sul, e Samora Machel, de Moçambique. As vitórias alcançadas por eles acabaram estimulando os negros brasileiros a lutarem contra o racismo no país.”

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