“Casa Popular”, loja descalvadense com 134 de existência reabre suas portas

“Casa Popular”, loja descalvadense com 134 de existência reabre suas portas

Webmaster 08/11/2019 - 19:45
Pouquíssimas empresas conseguem resistir por décadas, quem dirá por 134 anos, e essa é a história da “Casa Popular”, uma história de alegria, amor, determinação e resistência.

A partir de amanhã, 9 de novembro de 2019, a primeira loja a ser aberta em Descalvado volta a atender toda a população descalvadense com uma grande variedade de produtos, co inovação, porém, trazendo do passado o carinho pelo atendimento às pessoas.

Conheça a história e a memória da “Casa Popular”

No ano de 1885, vieram do Líbano, da cidade de Meziara, para o Brasil, em datas diferentes, os irmãos Gabriel Elias e Felippe Elias.

Na mesma viagem de Felippe Elias estava no navio um amigo seu, Abrão Dib.

Abrão Dib, amigo e companheiro da viagem, permaneceu em São Paulo onde, mais tarde, desenvolveu seu comércio na Rua 25 de Março. Abrão Dib queria que Felippe também ficasse em São Paulo e “montasse” seu comércio nessa cidade. Entretanto, Felippe preferiu ir para o interior e ficar com seu irmão Gabriel que viajara pouco antes.

Inicialmente os irmãos Felippe e Gabriel iniciaram suas atividades na região de Ribeirão Preto, Cravinhos e outras cidades vizinhas trabalhando como mascate, onde, a cavalo, visitavam as fazendas dos municípios levando e vendendo diversas mercadorias, de porta em porta.

O tempo foi passando e certamente atraídos pela crescente economia cafeeira de Descalvado, decidiram por fixar residência nessa cidade.

Assim, durante certo período, Felippe Elias também trabalhou em Descalvado no comércio como mascate, visitando a cavalo as fazendas do município.

Periodicamente, deixava a cidade de Descalvado, e por trem, único meio de transporte na época, se dirigia até a cidade de São Paulo onde efetuava a compra de mercadorias para revendê-las em Descalvado e atender a sua freguesia.

Foi um período difícil e de muito sacrifício. Felippe era moço. Nessa época tinha cerca de 20 anos de idade, muita saúde, disposição e vontade de vencer.

Quando chegou ao Brasil, não falava a língua portuguesa. Tinha deixado no Líbano toda sua família: pais, irmãos, primos, tios, etc. para tentar uma vida nova em um país novo com cultura e costumes totalmente diferentes daqueles de sua origem.

O tempo foi passando e por volta de 1890 Felippe Elias já estava estabelecido em Descalvado com uma casa comercial onde tinha seu irmão Gabriel como sócio.

Somente em 06 de junho de 1894 Felippe Elias obteve, oficialmente, seu primeiro alvará de funcionamento da CASA POPULAR, expedido pela Prefeitura local.

O primeiro endereço da CASA POPULAR era na antiga Rua Uruguaiana nº 5 em um imóvel que hoje não mais existe. O imóvel ficava na atual Rua Coronel Rafael Tobias, esquina com a Rua Tomé Ferreira, onde ele dividia, como costume da época, moradia e loja.

Como objetivo de comércio, constava no primeiro alvará emitido pela Prefeitura do Município de Descalvado a venda de tecidos, roupas feitas, chapéus, calçados, armarinhos, etc.

Nesse imóvel da antiga Rua Uruguaiana a CASA POPULAR permaneceu até 1915, ano em que Felippe terminou a construção de novo prédio com a residência ao lado, à Rua Bezerra Paes, nº 331, imóvel esse conservado até os dias de hoje.

Um detalhe importante a observar é que naquela época o principal meio de locomoção dos habitantes era o cavalo. Assim, a grande freguesia da CASA POPULAR, moradora das fazendas do município, vinha até a cidade a cavalo. E, para facilitar a vida dos fregueses, Felippe Elias, ao construir o novo prédio da CASA POPULAR, não se esqueceu de construir no quintal da casa um grande barracão com água potável para dar de beber e descanso aos cavalos de seus fregueses [a exemplo do que existia no imóvel anterior].

Em 29 de junho de 1.895 Felippe Elias se casou com Mathilde Felippina Baralle que era irmã de Itália Baralle, já casada com Gabriel Elias.

Desse casamento, nasceram os filhos:
José Felippe [1898],
Morina [1900],
Amélia [1903],
Mário [1906],
Marieta [190 ],
Julieta [1908],
Luiz [1911]
Eduardo [1911],
Eduardo Oswaldo [1915], e
Nascim [1918].

Foi no ano de 1915, quando o endereço da CASA POPULAR passou para a Rua Bezerra Paes, 331, que os irmãos Felippe e Gabriel se separaram; Felippe continuou com a atividade da grande loja e Gabriel iniciou outras atividades. Aliás, uma delas, foi Gabriel Elias quem inaugurou o primeiro cinema na cidade de Descalvado – o antigo CINE IDEAL, posteriormente denominado CINE SÃO JOSÉ.

Ainda durante os anos 1930, o filho Mário, juntamente com um amigo, “montou” um serviço de alto-falantes na cidade. Nesses anos, existiam poucos rádios receptores na cidade e as estações retransmissoras não tinham potência suficiente para que seu sinal chegasse às cidades do interior. Esse serviço, contando com alto-falantes instalados nos jardins da cidade, supriam certas necessidades transmitindo músicas aos ouvintes e, entre uma música e outra, divulgando comunicados e anúncios publicitários do comércio da cidade.

Voltando ao aspecto comercial, talvez tenham sido os árabes os precursores das conhecidas e atuais lojas de departamento, pois já naquela época a CASA POPULAR dispunha de vários setores: uma seção de perfumaria, outra de roupas prontas, de tecidos, de chapéus, de aviamentos, de artigos para alfaiate e costureira, de tecidos, de sapatos, botinas e sandálias alpargatas rústicos para os homens do campo, de brinquedos, de artigos de ocasião, como, por exemplo, Natal, Carnaval, Dia das Crianças, etc.

Após o falecimento de Felippe Elias, a CASA POPULAR foi mantida e lavada adiante por um de seus filhos, o Mário que veio a falecer em 1.958. Daí em diante sua esposa Angelina, mantendo a tradição, continuou com as atividades comerciais iniciadas por Felippe Elias, contando sempre com o apoio indispensável de Eduardo Oswaldo, seu cunhado e irmão de Mário Elias.

Após o falecimento de Angelina em 1998, Eduardo Oswaldo, conhecido como Nenê Elias, já aposentado de suas funções profissionais, assumiu o controle da CASA POPULAR permanecendo até 2006, ano em que faleceu.

A CASA POPULAR continua em atividade até os dias atuais, agora sob a administração de um dos netos de Felippe Elias, o engenheiro José Luiz Elias.

A CASA POPULAR não é mais aquela casa comercial do início de sua fundação, onde durante muitos anos se manteve como uma das principais lojas da cidade e da região.

Assim, a CASA POPULAR vem resistindo ao tempo, mantendo sua tradição de respeito, credibilidade, atenção aos fregueses, idoneidade, honestidade e caráter comercial digno de uma empresa séria, de um passado imaculado e que, sem dúvida alguma, faz parte da história da cidade de Descalvado.

Vale lembrar que, ao longo de sua existência, a CASA POPULAR viveu diversos períodos em que o mundo enfrentou várias crises econômicas e políticas. Além das duas grandes guerras mundiais [de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945], sofreu a crise de 1920, a depressão de 1929, as crises políticas brasileiras de 1930, 1932, 1945 e 1964, as crises mundiais de 1925 e 1945 e os diversos planos da política econômica brasileira.

A CASA POPULAR já assistiu e viveu à passagem de dois séculos.

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