Seca ameaça 14 espécies de peixes no Rio Mogi Guaçu

Seca ameaça 14 espécies de peixes no Rio Mogi Guaçu

Webmaster 16/09/2014 - 09:37
A pior seca em 60 anos ameaça a vida de 14 espécies de peixes nativas do Rio Mogi Guaçu. O alerta é do Cepta (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais), localizado no distrito de Cachoeira de Emas, em Pirassununga/SP. A vazão está 50% abaixo do normal para esta época do ano e a recuperação pode levar anos. No bairro Cascata, moradores e pescadores estão apreensivos com a situação e muitos afirmam que nunca viram nada igual. O cenário é assustador para quem vive nas margens do rio.

“Pesco há mais de 20 anos e jamais presenciei algo semelhante. Não temos peixes, foram registradas mortandades e fico triste ao ver o Mogi sofrer tanto”, lamentou o pescador Sincinato Braga Filho, que disse não conseguir pescar nem lambaris. “Em alguns pontos é possível atravessar o rio de uma margem a outra, caminhando. Fui para o Taquari (Leme/SP), lá está pior”, contou outro pescador.

De família tradicional no bairro Cascata, zona rural de Araras, o comerciante Michel Narciso Jesus Vicentin relata que nunca tinha enfrentado seca tão severa. “Nasci na Cascata, fui criado neste bairro e sempre tive relação com o rio. Em 30 anos eu nunca vi algo semelhante. Acompanho o Guaçu morrer, lentamente, e até os pescadores sumiram”, disse.

Michel tem um bar nas margens do rio e disse que a freqüência de clientes caiu com o agravamento da seca. Outro fator citado por ele foi a mortandade de peixes. “Elas acontecem quando chove um pouco. Qualquer pessoa sabe da situação que está o rio, poluído e com muito lodo. Quando chove, e o nível sobe um pouco, a mortandade acontece. A reprodução foi ruim neste ano e piorou com as mortes”, contou;

A baixa vazão, aliada à poluição, contribui para a proliferação dos aguapés (plantas aquáticas que se alimentam de pequenos organismos presentes no rio, principalmente de materiais poluentes). “Em alguns pontos elas tomaram conta do rio e há meses não consigo tirar meu barco e navegar”.

Cepta classifica seca como histórica
Em 60 anos, o Rio Mogi Guaçu nunca sofreu estiagem prolongada como a atual, segundo o biólogo e coordenador do Cepta, José Augusto Senhorini. “Temos acompanhado todo o processo e conversamos com ribeirinhos de vários municípios banhados pelo rio. O relato é o mesmo e a situação é preocupante e histórica”, afirmou.

A vazão normal para setembro fica em 21 metros cúbicos por segundo, mas hoje está em 8 metros cúbicos por segundo. Número muito abaixo do ideal e, em alguns trechos, o rio parece um córrego. Além da crise no abastecimento de água enfrentada em toda a região, a seca também ameaça a vida de 14 espécies de peixes nativas.

“Hoje os peixes ainda conseguem respirar, devido ao oxigênio que resiste na água. Mas, se a chuva não voltar até outubro vamos enfrentar perda história e irreparável e 14 espécies podem desaparecer”, explicou. Senhorini confirmou a mortandade de peixes em pontos específicos do rio desde janeiro e disse ainda que a época da reprodução, ocorrida entre novembro e fevereiro (piracema), foi prejudicada e pode piorar neste ano.

“O rio estava abaixo do nível normal em janeiro deste ano e a situação piorou nos últimos meses. Não há previsão de chuva intensa para as próximas semanas e, caso o verão registre chuva abaixo da média, a próxima piracema será afetada”. Para o biólogo, os municípios banhados pelo Mogi precisam mudar a política de uso do rio. “Nem todas as cidades contam com tratamento de esgoto e quem trata não alcança 100%. Todo o esgoto é despejado e apenas agrava a situação”, finalizou.

Fonte: www.tribunadopovo.com.br

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