Após perder audição, Padre Angelo usa web para "encaminhar" confissões de fiéis

Após perder audição, Padre Angelo usa web para "encaminhar" confissões de fiéis

Webmaster 17/04/2014 - 14:15
Angelo Rossi, de 62 anos, sofreu sequela após ter meningite e criou "Face".
Religioso que passou por Americana, SP, possui 4 mil amigos na rede social.



Fazer parte de uma rede social nunca esteve nos planos do padre Angelo Francisco Rossi, de 62 anos, que se considerava velho até mesmo para aprender a usar um computador. O conceito agora lembrado em bom humor pelo religioso de Descalvado (SP) mudou há sete meses, quando decidiu experimentar o recurso para se aproximar de católicos na região de Campinas após perder a audição. Com 4 mil amigos, ele diz que até "encaminha" confissões.

"Em 2010, fui acometido por uma meningite e a perda de audição foi total. Hoje consigo ouvir graças ao implante coclear, mas por conta da minha limitação deixei a Paróquia de Americana e retornei para onde moro atualmente", conta o padre. Quando pondera sobre as diferenças para se relacionar com as pessoas, 30 anos após ser ordenado, ele avalia que o contato através do Facebook é "mais frio", porém, as pessoas ficam mais à vontade para desabafar e pedir ajuda.

"Foi um pouco estranho [mudança], porque no púlpito você está diante das pessoas, há contato humano e pode ver a reação no rosto e gestos. Aqui é tudo virtual, você imagina a pessoas, mas pode ser útil quando bem canalizado", explica ao comentar sobre diálogos que se aproximam de uma confissão ou exigem tratamentos diferenciados. "Quando surge algo que sinto ser uma confissão, procuro chamar para uma conversa mais pessoal. Já quando está distante, procuro encaminhá-la ao padre mais próximo para que receba o sacramento da penitência", ressalta o padre durante entrevista ao G1 pela rede social. "Gosto de falar em público, mas com esse novo método sinto que as palavras vão fluindo ainda mais rápido [...] Mas aqui requer mais confiança".

Vergonha, medo e superação
Segundo Rossi, a vergonha e o medo criam uma barreira que impede as pessoas de fazerem uma boa confissão. Com o uso do Facebook, ele acredita que pode incentivar os católicos a encontrar paz. "Muita gente acha que o Sacramento da Confissão ou Penitência caiu de moda. Elas buscam os profissionais da área de saúde e, diga-se de passagem, pagam caro para uma sessão onde fazem desabafos e buscam cura."

O padre, que faz e vende doces caseiros para ajudar festar comunitárias, admite que ainda sente dificuldades para usar a internet e precisa olhar o teclado para encontrar as teclas corretas. Ele demonstra satisfação ao lembrar das pessoas que reencontrou e diz que sentiu medo de não ir adiante no ofício.

"Quando senti que estava completamente surdo, pensei que jamais iria fazer o que sempre fiz com muito amor e fé. Hoje me sinto feliz e realizado por levar palavras de Deus às pessoas mais distantes. Sinto acolhimento", menciona ao indicar amigos que das paróquias de Americana e Cosmópolis com quem mantém contato.

"Vício" até de madrugada
Sem titubeios, Rossi afirma que não tem horário fixo para conversar com os fiéis. Brinca ao usar o termo "vício" quando descreve a rotina que criou para tentar atender o máximo de pessoas, por algumas vezes até às 3h, incluindo quem mora em outros estados. Em determinado momento, ele precisou interromper a conversa com a reportagem para falar com uma moradora de Curitiba (PR). "Ela estava desesperada. Perguntei a ela se tinha uma Bíblia em casa e disse que não. Daí tive que transcrever o texto que havia pedido para ela ler", lembrou o religioso na entrevista.

Embora continue celebrando missas, casamentos e batizados, o padre disse que buscou uma nova forma de evangelizar e comemora a repercussão. "Senti no meu coração um desejo de alcançar os que estão mais distantes. Antes eu sequer sabia ligar o computador e esse contato tem me fascinado cada dia mais, as pessoas estão carentes de ouvir a Palavra de Deus."

G1

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